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“A carne”

*trecho originalmente escrito para o livro “A Transcendência da Carne”, retirado na revisão final.

...O que seria a carne se não o invólucro primordial de todas as ações? O invólucro de todo o sistema de emoções que nos cerca?


O desejo irrefreável manifestado pelo toque, o imediatismo irrefutável alavancado pela urgência dos sentidos?


A carne é palpável, a carne coloca-se ao alcance de nossa avidez, de nossa fome, de nossa cobiça.


A carne agrega o início e o fim de nossas necessidades básicas. A manifestação máxima advinda do êxtase, do prazer. A carne sacia nossa fome, abranda nossas angústias, torna-nos humanos, mas não nos faz sucumbir. A carne conduz-nos diretamente ao milenar caminho da natureza, a lei inicial do sobrepujo do fraco pelo mais forte, a lei imutável de que os indefensos acabarão por perecer, acabarão por alimentar o mais astuto.


A carne é finita... sim...


Com um prazo de validade previamente estipulado. Contudo, dentro dos parâmetros de vida, há algum limite para sua utilização?


Haverá poder maior que o entrelaçar de corpos que acabam por gerar a vida? Que tipo de energia seria mais poderosa que aquela que cria uma nova existência?


A antítese também se mostra poderosa. A força oriunda da carne para erradicar a vida. O instrumento mortal para a aniquilação de inimigos.


A transmutação da carne dividida pelos caminhos da criação, manutenção e destruição é fugaz e parcamente determinada.


E ainda, que energia seria mais poderosa que a vontade de poder? O anseio de transcender a própria essência, a aspiração de ultrapassar os limites pré-estabelecidos?


A carne é finita... sim...


... Mas eterna e implacável enquanto durar...

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